terça-feira, 26 de abril de 2011

VIVIANE RODRIGUES RIBEIRO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS – DCL
LETRAS/PORTUGUÊS 4º PERÍODO VESPERTINO
LITERATURA PORTUGUESA: DAS ORIGENS AO BARROCO


ESTUDO DO TEXTO

O fidalgo é um personagem alienado, prepotente e egoísta, características estas que ficam evidentes nas seguintes passagens:
1ª “A estoutra barca me vou.
Hou da barca, para onde is?
Ah barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Hou lá! Hou!...
Por Deus, bem fadado estou!
Quanto a isto é já pior.
Que jericos, oh senhor!
_ Cuidam cá que sou um grou!”


2ª “Que me deixeis embarcar;
sou fidalgo de solar
é bem que me recolhais.”

3ª “Para senhor de tal marca
Não há aqui mais cortesia?
Venha prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!”

O fidalgo se acha superior, e faz pouco da barca do inferno, achando o lugar feio como um cortiço e, portanto, desprezível para qualquer morador: “E passageiros achais/ para tal habitação?”.
O auto pode ser interpretado como uma denúncia. Na fala “sou fidalgo de solar/ é bem que me recolhais” denuncia a diferença de tratamento que as pessoas recebem, sendo condizentes à classe social ocupada pelo indivíduo. Certamente o fidalgo já foi tratado de maneira superior por ocupar uma boa condição na sociedade.
O anjo, mesmo representando o bem, é um personagem irônico. Ao dizer “ Para vossa fantasia/ mui pequena é essa barca” o anjo está ironizando o fato de o fidalgo não ser digno de entrar na embarcação, desta forma inverte a situação dizendo que a barca não está a altura deste.
Durante o decorrer do auto o fidalgo se mostra um ser esperto, tanto que chega a querer enganar o diabo para fugir daquilo que, aparentemente, era o seu destino. Dessa forma o fidalgo alega querer ver sua mulher, mas o pretexto utilizado não convence o diabo que talvez já conhecesse aquele tipo de atitude.
Ao final do texto o fidalgo se dá conta que não havia maneira para ele fugir daquilo que ele mesmo tinha contribuído, e acaba cedendo e entrando para a barca do inferno.
No decorrer do auto é possível encontrar vários elementos que condizem com a moralidade cristã, além dos que estão mais explícitos, como a imagem do anjo e do diabo. O cristianismo prega a humildade, isso fica evidente na passagem bíblica em que um jovem rico se apresenta a Jesus e pergunta o que deve fazer para merecer a vida eterna, Jesus responde que é necessário que ele venda tudo e o siga, ao ver que precisaria renunciar toda sua riqueza o jovem diz que precisa pensar, e Jesus finaliza dizendo que é mais fácil um camelo entrar no fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus. Dessa forma o auto quis confirmar aquilo que a bíblia apresentou, colocando o fidalgo na barca do inferno.
Outro elemento cristão são as rezas feitas por fieis, o fidalgo fala ao diabo que alguém na terra rezava por ele.
Gil Vicente faz uso de versos de sete sílabas, heptassílabo ou redondilha maior. Do ponto de vista das leis métricas, essa é a métrica mais fácil de se construir, visto que basta a última sílaba



EXERCÍCIO

No período do Humanismo inclui-se o teatro vicentino, entretanto o Gil Vicente produz obras extremamente simples, não obedecendo às três unidades do teatro clássico: ação, lugar e tempo.
Durante o Humanismo português desenvolveu-se a poesia palaciana. Esse tipo de poesia diferencia-se das cantigas trovadorescas pela separação entre a música e o texto, o que resultou num maior apuro formal, os textos passaram a ter melodias próprias, desenvolvendo-se assim as redondilhas maior e menor.

Auto da Lusitânia

Nesse auto o diálogo entre os personagens Berzebu e Dinato estabelece um duplo sentido, principalmente as observações feitas por Berzebu.
Os personagens Todo o Mundo e Ninguém representam a humanidade, aquele indica as ações e ambições das pessoas, enquanto este, tudo aquilo que o homem não busca.
O vocábulo “homem”, empregado duas vezes na indicação inicial do auto, nos permite concluir que as aparências de Todo o Mundo e Ninguém são dissimuladas, visto que o autor faz uso de apenas duas pessoas para representar a humanidade, o que nos leva a pensar, também, que o Auto da Lusitânia possui uma característica farsesca.

AUTO DA ALMA

Não há muitos personagens populares nesta obra, o único é a Alma. Esta a princípio parece ser um personagem fantático, místico, mas depois é possível perceber que se trata de uma pessoa ainda em vida. Ao decorrer da história percebemos que a Alma é indecisa, ora se deixa levar pelas falas do Anjo, e ora pelas falas do Diabo. Ela se mostra fraca, seduzida pelas propostas “do mal”, mas consegue superar e seguir o caminho indicado pelo anjo.
Já os seres fantásticos são maioria: anjo, diabo e santos fazem parte da obra. O Anjo é um ser celestial, que tem como missão conduzir a Alma e conscientizá-la quanto ao mal existente: “não queirais a Satanás/ dar ouvido.”(VICENTE, p. 27).
A todo o momento o Anjo tenta reanimar a Alma, dá recomendações quanto à maneira que tem que se comportar para alcançar a Glória: “Não vos perturbem vaidades,/ riquezas, nem debates”. (VICENTE, p.25)
O auto nos apresenta dois diabos. O primeiro é um ser de ar tinhoso, que conhece aquilo que seduz. Procura apresentar à Alma todas as riquezas terrenas e tenta convencê-la de que a Igreja é um lugar para pessoas mais velhas, que estão próximas das morte: “Consentis/ em viver na Igreja antes/ da velhice?” (VICENTE, p. 41)
O segundo Diabo pouco aparece no texto, mas dá para perceber que este tem características similares ao primeiro, também tentava seduzir pessoas e desviá-las do caminho da Igreja. Este reconhece que já havia perdido para o Anjo, entretanto acredita que um dia conseguirá: “Reconheço que perdi, / outro dia ganharei/ e ganharemos.” (VICENTE, p. 49)
Os santos presentes na obras são Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerônimo e São Tomás. Todos eles são os doutores da Igreja e incumbidos de ajudarem na purificação da Alma: “Cerrai olhos corporais, / deitai por terra os profanos” (VICENTE, p.51).
O Auto da Alma contém um personagem alegórico, a Igreja. Esta é a hospedagem das pessoas na terra, uma pousada que, com a ajuda dos doutores, fortalece e encoraja as almas.

PENSANDO
A Crônica de D. João I, escrita por Fernão Dias, nos apresenta uma narração realista e dinâmica que quase nos faz visualizar os acontecimentos. Todas as ações e todos os personagens são bem descritos, proporcionando melhor imagem dos fatos.
Gil Vicente produzia teatros em que demonstrava sua preocupação com a imagem do homem e com a religião. Suas peças continham caráter sacro e satírico, pois além de abordar questões religiosas ele também fazia críticas à igreja.

*Ide-lhe, rogo - vo-lo, falar,/ e fazei com que me queira,/ que pareço./ E dizei-lhe que lhe peço/ Se lembre que tal fiquei/ Estimado em pouco preço,/ e, se tanto mal mereço,/ não no sei!/ E se tenho essa vontade,/ que não deve enjoar,/ mas antes muito folgar,/ matar de qualquer idade./ E, se reclama/ que sendo tão lindo dama/ por ser velho me aborrece,/ dizei-lhe que mal desama,/ porque minha alma que a ama/ não envelhece.

O trecho exposto acima se trata de uma cantiga de amor, visto que o eu – lírico é masculino e idealiza uma mulher, que por sua vez não corresponde a esses sentimentos.

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Agradecida,
Profa. Generosa Souto